12/08/2009

Zeus na Avenida do Mar

Estava a caminhar na Avenida do Mar, acompanhado por uma amiga, quando foi abordado por um individuo que me fez um desafio:
- Quer melhorar a sua vida? - disse-me ele num tom desafiador.
- Eu gosto da minha vida como ela é. - repliquei numa tentativa de escapulir daquele local.
- Alguém que diz uma coisa dessas está manifestamente insatisfeito com a sua vida.
Eu sorri com a aparente contradição.
- Está a dizer que estou a mentir? - perguntei.
- Não diria mentir. Provavelmente é um mecanismo de defesa dizer o oposto daquilo que pensamos.
Fiquei surpreendido com esta resposta e curioso em ouvir mais daquele personagem indiscreto. Pelo menos não era um néscio qualquer.
- O segredo para felicidade reside em almejar algo apoiado pelos deuses.
- Quais deuses? - questionei atónito.
- Depende daquilo que estiver a desejar. Por exemplo se almeja fortuna tem de prestar tributo a Pluto...
- Pluto! - interrompi eu bruscamente - Aquele que os romanos chamavam de Hades, o rei dos infernos?
- Sim, esse mesmo. Como sabe ele era cego por isso favorecia com a riqueza tanto aos idiotas, como aos velhacos ou os virtuosos. Embora estes últimos raramente possuam em abundância o vil metal.
- Meu caro senhor. Lamento mas temos que partir. A minha colega tem um compromisso com umas amigas. -Inventei eu para despachar o homem.
- Mas eu ainda não lhe disse o que pretendo para si.
- Não estou interessado em saber. Muito obrigado. Com licença.
Foi então que o homem agarrou-me no braço e disse.
- Eu sou Zeus e já ninguém me liga. Casei-me três vezes. Possui centenas de divindades e algumas humanas também. E agora o que sou? Uma excentricidade leccionada em algumas aulas de história que já não fascina ninguém.
Eu ia a minha colega nem respondemos ao desabafo daquela figura infeliz, mas mesmo assim, por piedade, oferecemos-lhe um 1,5€ para ele comprar umas castanhas.


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