11/23/2009

Seu Jorge

(...) Só gastando grana, na maior gandaia (...)

Seu Jorge - Burguesinha

11/22/2009

No outro dia disseram-me...

...«gosto de mulheres viçosas

11/21/2009

Sócrates e a governação.

Vasco Pulido Valente tem quase sempre razão, e, mais uma vez, não falha. Podemos não gostar de Sócrates. São perfeitamente legitimas as críticas que tem sido dirigidas ao nosso primeiro-ministro. Se há falcatruas no aparelho do Estado estas tem de ser investigadas. Sócrates deve ser escrutinado permanentemente sobre os seus actos. Há o dever de cidadania em querer apurar a verdade. Mas para tudo isto há limites. Não cabe ao cidadão comum julgar com base em informações dispersas e pouco precisas. Sócrates foi eleito democraticamente. Não vale a pena por em causa o regime, somente com base em suspeitas. Apesar da importância que tem a investigação face oculta, esta parece estar a desviar as intenções para o essencial. Devemos ter em atenção que Sócrates continua a governar (mal), e damos pouca atenção ao que o primeiro-ministro tem feito. Estamos todos um pouco ofuscados com a face oculta, mas esta investigação, não resolverá os problemas do país, não nos ajudará (seja qual for veredicto) a sairmos da crise.

Solipsista

Partidário do solipsismo.

Pulp - We Love Life (2001)


1. Weeds
2. Weeds 2
3. The Night That Minnie Timperley Died
4. The Trees
5. Wickerman
6. I Love Life
7. The Birds in your Garden
8. Bob Lind (The Only Way Is Down)
9. Bad Cover Version
10. Roadkill
11. Sunrise
12. Yesterday
13. Forever in my Dreams

Os motivos errados de gostar de alguém

Porque gostamos de alguém? É verdade que precisamos disso, mas porque aquela pessoa em especial? Há quem diga que é por terem gostos comuns, outros alegam que gostam de alguém porque essa pessoa é diferente de si, há que afirme que é pela beleza ou inteligência, ninguém o admite, mas também pode ser pelo dinheiro ou status. No Whatever Works, do Woody Allen, Larry David diz que amava a mulher pelos motivos errados, beleza e inteligência, na sua opinião isso não batia certo, não lhe parecia bem. Quando gostamos de alguém raramente é somente pelas suas qualidades. Também podemos amar pelos defeitos. Uma relação sólida vive disso, de admitirmos que a pessoa amada tem defeitos e vivemos bem com isso. E não é só viver bem com isso, por vezes, esses defeitos são condição e predicado para amarmos essa pessoa.

11/19/2009

Pequena nota sobre o amor...

O passado persegue-nos desde o infinito até o momento presente. Há quem diga que vivemos vidas passadas, que somos o ressoar de outras existências, de outras experiências, de outros mundos, quiçá, como se fossemos o eco de estranhas civilizações. Esta última passagem faz-me lembrar o amor. Quando sentimos que amamos alguém, o mundo parece que cessa de existir, o que mais almejamos e consubstanciar a pessoa amada, materializar a nossa paixão, enfim transformar o intangível em tangível. O universo de uma relação com paixão é único, como se fosse criado um universo paralelo, uma estranha civilização (devo estas palavras a Chico Buarque). E quando o amor acaba? Podemos fazer como José Saramago e apagar o nome de Isabel Nóbrega das dedicatórias, mas este gesto não torna a Isabel num espectro invisível, ela continua a existir, a coexistir, a respirar. O amor por uma mulher pode ser evanescente nos nossos corações, mas não é no pergaminho da nossa memória. Subsistem momentos, vivências, missivas ridículas, gestos ditirâmbicos. Parece-nos, de repente, que tudo aquilo foi um delírio, que não estávamos em nós próprios. A alacridade transforma-se em melancolia. O amor, por vezes, em ódio, ou então, num vilipêndio repulsivo.

Público - A garantia da publicidade

Público - A garantia da publicidade

11/18/2009

Tropa de Elite

O filme Tropa de Elite, realizado por José Padilha, é o mote perfeito para abordar a toxicodependência. O filme revela o prisma mais pernicioso do vício, o gerador de violência. Vender estupefacientes pode ser um negócio lucrativo, mas é insidioso para todos. Tropa de Elite revela tudo isto de forma magistral. Primeiro, apercebo-nos nos perigos do tráfico, depois percebemos que que dependência alimenta a violência. Portanto, o acto de comprar e consumir drogas não é inocente e inócuo. O consumo pode ter sido despenalizado, mas os proveitos do consumo continuam a alimentar uma máquina criminal, apelando pessoas para o ilícito. Perante este problema, as autoridades, simplesmente, não podem fechar os olhos perante o consumidor. É preciso resolver o problema pela raiz que o provoca: o consumo. Podemos apetrechar as forças policiais na rua, mas enquanto houver lucro é impossível parar o tráfico, deste modo a melhor forma de combater a violência e marginalidade associada ao tráfico é refreando o consumo, com políticas de acompanhamento e apoio. Fechar os olhos nunca é solução.

The Sound - From the Lion's Mouth (1981)


01. Winning
02. Sense of Purpose
03. Contact the Fact
04. Skeletons
05. Judgment
06. Fatal Flaw
07. Possession
08. The Fire
09. Silent Air
10. New Dark Age

(descobri o álbum aqui)

11/17/2009

Caminhos ínvios

Nunca pergunto o caminho a ninguém, gosto de me perder. Adoro caminhos ínvios. Tenho um mau sentido de orientação e aproveito isso ao máximo. Só saí do país uma vez, num InterRail, estive em Berlim, Paris, Amesterdão, Istambul, Atenas, Nápoles, Bucareste, Budapeste, Roma e Barcelona  (por esta ordem). Lembro-me particularmente de me perder em Berlim. Aqueles parques, o pórtico de Berlim, o arcanjo dourado que aponta para Paris (segundo me foi dito), todos aqueles monumentos que relembram o passado prussiano. Os turcos, os alemães, as alemãs...Fui afectuosamente encaminhado por uma alemã, que suponho chamar-se de Amber, ela falou-me do muro, das feridas da Alemanha, do modo como este país ergueu-se depois da guerra. Depois fomos a um bar conhecer os amigos dela. Fui muito bem recebido, sem grande alarde, com simpatia e boa disposição. Fiquei particularmente impressionado com os temas de conversa, não eram banais, havia um pormenor que me encantou: as referências. Quando se tem uma conversa, devemos ter referências, sejam estas cinematográficas, literárias, musicais, ou do quotidiano. Aqui usa-se mais as de quotidiano, mas naquele lugar, em Berlim, eram mais as cinematográficas. Mencionar Thomas Mann ou Wolfgang Becker é muito diferente de usar as vivências pessoais de beltrano e sicrano para contextualizar. Existe uma certa cultura nisto, e, talvez, isto seja apenas mais um sinal de atraso no nosso país.

11/16/2009

Depois do amor

Há uma passagem no 2666 que considero interessante, é no primeiro livro, e envolve Liz Norton e um dos seus amantes, não sei se o espanhol ou o francês. Estes quando iam a Londres satisfazer os seus desejos, deixavam a casa desarrumada, e Norton depois deles saírem tinha que arrumar a pequena confusão que eles deixavam para trás. O sexo por vezes tem destas coisas, pode ser óptimo, mas há sempre um depois, e é nestes momentos que, por vezes, percebemos que não temos intimidade nenhuma com nossa parceira ou parceiro. O diálogo depois do amor pode ser confrangedor, o silêncio também. Há um momento no Pulp Fiction sobre o silêncio. A Uma Thurman vira-se para John Trovalta e diz-lhe que é no silêncio, ou nos silêncios, que compreendemos que amamos alguém. Esta química no silêncio é fundamental na intimidade, duas pessoas podem ser óptimas conversadoras, mas se no silêncio, ou nos silêncios, não funcionarem, o amor não pode existir.

Tecnologia

Percebo pouco de tecnologia, mal sei configurar uma rede sem fios e nada sei de programação ou hardware. Isto é um problema no sentido dado que existe um cada vez maior distanciamento em quem produz tecnologia e quem a utiliza. Já se discute o papel e os limites da tecnologia há muito, mas nunca esta discussão foi tão pertinente. Aqui já não só falo da tecnologia que utilizamos no dia-a-dia, estou também a me referir a biotecnologia ou nanotecnologia, ciências que aos poucos vão se tornar mais comuns. A ficção cientifica já aborda os perigos destas tecnologias. A biotecnologia poderá ser o desafio mais comprometedor, lidar e manipular a vida traz problemas éticos e religiosos. Não se sabe quais são as consequências da manipulação genética ou da clonagem. Fazer o papel de Deus repugna muita gente, mas eu acredito, que o fundamental é estar informado. A sociedade civil deve acompanhar os desenvolvimentos da ciência, deve intervir, deve ponderar os dilemas passo a passo. Não podemos simplesmente repudiar a ciência. Quando Bush proibiu o uso de células estaminais no EUA, Singapura avançou logo na matéria, ou seja, é cada vez mais difícil limitar a ciência, deste modo, a melhor estratégia será apaziguar anacronismos e moderar ímpetos periclitantes.

11/15/2009

Medo

O medo paralisa, comprime o individuo. O medo trai, engana, destrói. Conheço homens que tem medo das mulheres, não é misoginia, é medo, um medo irracional de se confrontar com emoções que não se pode controlar, o medo de ser manipulado por essas emoções. A fragilidade gera medo. A pusilanimidade provoca uma tormenta de sentimentos que inferioriza, aniquila o ego, reduz o ser a uma escravidão. Ser escravo do receio de viver, de existir, recrudesce o medo tal forma que ficamos assoberbados. Certa noite estava desperto mas sonhei na escuridão que tinha sido preso. Já na prisão colocaram-me numa cela e perguntei ao guarda porque ali estava, a resposta foi que eu existia, e que ali cessava de existir. Há pessoas que vivem neste pesadelo, é um pesadelo premeditado, pois há pessoas que não querem existir. Querem ser espectros invisíveis. A invisibilidade pode ser um conforto, o bem-estar do anonimato é não sofrer. Podemos ser muito infelizes se existimos, mas se formos invisíveis, ninguém nos quer tocar, assim não há tanto sofrimento.

11/13/2009

Sócrates

Metade do país não suporta Sócrates, e se olharmos para o parlamento, é mais de metade. Não sei se Sócrates é um infortunado ou um afortunado. Podemos ver as coisas de duas perspectivas. Por um lado temos um Sócrates que permanentemente está envolvido em casos estranhos, que envolvem corrupções, negócios ilícitos e práticas menos ortodoxas. Sócrates já foi acusado de ornamentar o currículo com informações falsas, de fazer exames ao Domingo, de estar associado ao caso Freeport, e agora ao caso Face Oculta. E ainda há aqueles casos que não mencionei. Sócrates, no entanto, parece sair luminoso de cada uma destas situações, como se não fosse nada com ele. Ou são cabalas, ou equívocos, ou familiares interesseiros, nada disto parece ser suspeito, são apenas infortúnios que calham ao homem, e que o bando dos seus detractores aproveita-se para minar a sua autoridade e legitimidade que foi concedida pelo voto dos portugueses. Os socialistas defendem acerrimamente Sócrates, mesmo quando as evidências são cada vez mais sonoras. Aqui é o lado afortunado do nosso primeiro-ministro, Sócrates tem hostes devidamente convencidas da primazia e idoneidade do líder. Sócrates poderá ser um mau primeiro-ministro, todos sabemos do fracasso na justiça, do infeliz resultado com os professores e do estado da economia e das finanças. Tudo isto parece pouco importante para os seus apoiantes. 
Sócrates apesar de ser um mau primeiro-ministro não vai ser lembrado por isso. Estou convicto que apesar disto tudo, Sócrates tem razão num ponto. O casamento entre pessoas do mesmo sexo será, na minha opinião, uma das poucas coisas bem feitas por este governo socialista. Será no futuro um marco importante e muitos não esquecerão que foi Sócrates que tornou isso possível. É pena que a direita não compreenda isto.

11/12/2009

Hugo Chávez

Lembro-me de Hugo Chávez suscitar empatia quando chegou ao poder. Houve pessoas que saudaram o novo líder, que finalmente traria prosperidade ao povo da Venezuela, governando para este. Ele tinha tudo para se gostar dele. Era socialista, anti-globalização e tinha um ódio visceral pelos «imperialistas» americanos. O contraste entre uma América governada por Bush e uma Venezuela liderada por Chávez ainda acentuava o fascínio pelo homem. Mesmo quando Chávez decidiu perpetuar-se no poder, querendo alterar a Constituição por referendo, onde perdeu o sufrágio na primeira vez, mas obteve vitória numa segunda votação, ele não perdeu muitos simpatizantes, porque segundo estes, os referendos exprimem os desejos do povo, e se o povo queria um presidente vitalício, isto não poria em causa o estado de direito.
Agora as coisas são diferentes, já ninguém repete os elogios do passado sobre Chávez, e as últimas informações que vêm da Venezuela mostram um país em cacos, onde há água, luz e serviços básicos racionados, uma economia em ruínas e onde é evidente que os Venezuelanos sofreram um retrocesso de anos nos seu desenvolvimento. Poderia se dizer que a ruína dos Venezuelanos começou com a diminuição do preço do crude nos mercados internacionais. Chávez nacionalizou a extracção de petróleo do país, mas se formos ver com atenção, reparamos que mesmo se os preços tivessem em alta, a produção de crude na Venezuela desceu tanto, devido ao desinvestimento e à incapacidade de gestão dos homens de Chávez, que hoje o lucro desta diminuiria para níveis muito inferiores aos registados no início do regime.
O estado da Venezuela é um bom exemplo de como o populismo e o chauvinismo de esquerda podem arruinar um país. Se formos ver com atenção as políticas de Chávez agradaram a muitos, pelo seu humanismo e voluntarismo, mas o resultado está a ser tão mau, que nada, mesmo nada, neste momento, se aproveita. Qualquer governante deve aprender com estes exemplos. Na política temos que tomar medidas impopulares, não existe dinheiro para tudo, e o importante é sempre garantir o melhor resultado global.

Referências

Henry Kissinger afirmou que o poder é o derradeiro afrodisíaco. O poder fascina, o poder é tudo. Quando li o Diplomacia deste mesmo autor, fiquei com a impressão que a história é feita por grandes homens, que com o seu cunho marcaram gerações, que figuras como Richelieu, Bismarck ou Churchill mudaram a história de forma indelével. Há quem concorde com Kissinger, o respeito por uma figura, é directamente proporcional à sua influência e poder, estas pessoas podem ser altas figuras do estado ou do mundo empresarial, e quanto mais poderosas são, mais respeito impõem. Conheço pessoas que já foram Cavaquistas e agora já não são. Enquanto Cavaco foi sinónimo de poder, ele foi respeitado, agora que ficou demonstrado que não consegue influenciar o resultado de umas eleições legislativas, perdeu o charme, e não passa de um provinciano. Talvez isto seja um sinal dos nossos tempos. Figuras como Soares, Cavaco e Sá Carneiro (os políticos mais relevantes da nossa democracia), podem ainda manter alguns aficionados, mas já perderam o brilho, e com isso a consideração. Se assim é, para onde nos podemos virar quando precisamos de referências?

11/11/2009

Blogues

O primeiro blogue que acompanhei, foi a Coluna Infame, gostava daquilo tudo, das polémicas, dos autores, e dos livros. Digo livros porque descobri Conrad com a Coluna Infame. Desde então, tenho acompanhado o trabalho de Pedro Lomba, Pedro Mexia e João Pereira Countinho. Descobri com este trio, um pouco de tudo, desde livros a álbuns, de política a cinema. Já tive oportunidade de agradecer a cada um deles individualmente e acompanho o seu trabalho desde então. Devo muito à blogosfera que tem sido um meio privelegiado de aprendizagem. Dizem-me que isto dos blogues é mais exibicionismo que outra coisa, que um bloguer é um narcisista inveterado. Eu discordo. Não posso concordar, apesar de ter um conhecimento limitado da blogosfera, conheço e acompanho diariamente poucos blogues, sei que muitos deles são feitos com cuidado, e mestria. Da Literatura é obrigatório,  A Origem das Espécies, também. Agora sou eu que inicío esta aventura. Não o faço por voluntarismo ou generosidade, e com certeza, que também não por exibicionismo. O meu motivo é mais prosaico. O que eu pretendo é praticar o instrumento que é a língua portuguesa. Inicialmente queria intervir, influenciar e participar, mas mudei de ideias, vou simplesmente utilizar este espaço e desafio para praticar a escrita.

Um episódio sobre literatura

Um dos episódios que mais marcou o meu secundário foi ter uma negativa a Português. A culpa não foi da professora, foi minha. Ela não me avaliou mal, eu, simplesmente, fui péssimo. Lembro-me mal do poema. Só me recordo das palavras querubim e onírico. Talvez fosse um poema do Pessoa, sinceramente, não me recordo. A negativa, no entanto, fez-me bem. Revoltou-me mas fez-me bem. Senti na pele o que é ser um iletrado. Como se ser iletrado fosse um pungente estigma, uma mácula, como se a minha honra dependesse de compreender aquele poema. Hoje já sei ler melhor, quando digo melhor, quero dizer um pouco melhor. Ainda não sei ler. Aprender a ler é um dos objectivos da minha vida, e, talvez, ainda demore anos a aprumar as minhas leituras. É uma tarefa que me dá prazer, mas que exige tempo e dedicação. Certa ocasião presenciei um tipo que pergunta a outro se este já tinha lido O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, o outro sentiu-se indignado com a questão e quase que aquilo desancava em violência. Provavelmente nenhum dos dois teria efectivamente lido o texto de Eça de Queiroz, uns meses antes esteve em exibição o filme que se baseava nesse livro, mas mesmo assim houve indignação. Como se fosse óbvio ter lido o Crime do Padre Amado, e fosse um insulto não ter lido aquele livro. Eu percebo que vivemos na era das aparências, mas este episódio marcou-me. Será que no rodopio constante da nossa contemporaneidade temos tempo para efectivamente aprender a ler? Será que há tempo para reflectirmos sobre o que lemos? A literatura é uma mais-valia (eu sou economista) nos nossos dias? Para aqueles fulanos, sicranos e beltranos que ululam por aí, parece-me que não. A literatura ocupa tempo útil, a literatura não dilata o espírito, comprime-o. É um exercício vão, mas mesmo assim todos nós lemos e relemos de tudo. Todos nós lemos tudo e sabemos tudo. Não conheço ninguém que não leia de tudo, mas a maior parte dessa chusma parece-me semi-analfabeta.È tão difícil encontrar pessoas que falem sobre livros...

Princípio de Incerteza

Einstein acreditava que Deus não jogava aos dados. Tinha uma visão do universo unificada, dado que, se temos um Deus criador de todas as coisas, as leis que regem a gravidade são em tudo semelhantes as que regem o nosso pensamento. Einstein quis encontrar esta teoria unificadora, que permitisse explicar qualquer fenómeno físico, mas não o conseguiu. Hoje esta ideia está ultrapassada, a mecânica quântica implica incerteza, ou incertezas. Na biologia sabemos que a evolução é um processo ocasional, decorrente de pequenas alterações aleatórias que ocorrem durante a mitose ou devido a uma mutação. Sabemos perfeitamente que a razão não determina todos os nossos actos. Ou seja, a ciência moderna não nos dá certezas, dá-nos acasos, incertezas, e imprevisibilidade. No Iluminismo estávamos convictos que razão e ciência combinavam-se na perfeição, éramos positivistas, poderíamos sem sombra de dúvida resolver as maleitas do mundo, porque tínhamos o processo cientifico para nos ajudar. Hoje não existe essa convicção, a ciência dá-nos um caminho, mas existem perigos, caminhos sinuosos que nos podem conduzir a destruição. Para evitar passos periclitantes temos que ser prudentes e exigentes.

11/10/2009

Ostracizar

No outro dia disseram-me que ninguém gostava de determinado indivíduo, acrescentaram que este era um infeliz, e, claro, esquisito. Não sei se foi por esta ordem, não sei se me disseram primeiro que essa pessoa era infeliz e esquisita, e depois acrescentaram que ninguém gostava dela. Pareceu-me, no entanto, uma sentença atroz dizer que essa pessoa era um infeliz. Como se não interessasse o estado de espírito dessa pessoa, ela pode ser feliz e contente, pode ter as suas limitações como toda a gente, mas o que importa era que ele era infeliz, como a sua infelicidade fosse imposta por todos. Essa infelicidade pode nem sequer existir, essa pessoa pode se sentir bem consigo própria, mas isso pouco interessa, sendo esquisita, e ninguém gostando dela, ela não pode sorrir. Esta observação fez-me pensar. O que pretendia o meu interlocutor, quando proferiu a a medonha sentença?  Primeiro, pensei que este, provavelmente, o que pretendia, era que eu homologasse a sentença, confirmando aquele juízo. Eu respondi como as regras, disse que achava o mesmo, e até referi um episódio que corroborava a infelicidade do indivíduo. Depois pensei um pouco melhor, será que era só isto que o meu interlocutor pretendia? Cheguei então a uma conclusão diferente, o que ele queria não era que eu confirmasse a sua opinião sobre aquela pessoa, não, não era isso, aquela nossa conversa foi um aviso a minha navegação. Eu simplesmente não me devo aproximar daquele «infeliz»,   tenho de ser como toda a gente, que já tem uma opinião formada, e sendo o indivíduo infeliz, e esquisito, não poderei, obviamente, gostar dele. Deste modo devo-me afastar dele. Pode-se dizer que aquela conversa toda serviu, apenas, para ostracizar uma pessoa. Lembro-me de Sócrates, o filósofo que teve duas escolhas, uma era sair de Atenas, ou seja, ser ostracizado, e outra, como todos nós sabemos, envolvia cicuta. Sócrates preferiu a cicuta.

Face Inculta

Eu questiono-me como pessoas como Armando Vara colocam-se nestas situações. Todos sabemos das cumplicidades de Armando Vara, das suas amizades, ou contactos privilegiados, com altas figuras do estado e do sector empresarial, dos seus cargos importantes na banca e dos privilégios inerentes a isto tudo. Apesar destas prerrogativas Armando Vara não se coibiu de se imiscuir em negócios obscuros com sucateiros. Será isto meramente corrupção? Estou convicto que não. Há aqui uma ganância que em última análise pode ser considerada de provinciana. Este senhor, ao fazer estas tristes figuras, ilustra bem o atraso das nossas elites, que mesmo com o mundo aos seus pés, não deixam de ser uns medíocres e ignorantes.
Um processo mediático não é um julgamento, pese embora, o nome dos envolvidos fiquem irremediavelmente associados a corrupção e actos ilícitos. O caso face oculta é disso exemplo, a montanha poderá parir um rato, mas mesmo que nenhum dos arguidos seja declarado culpado, a suspeita permanecerá um fardo para estes.