4/28/2009

Folclore com cravos

Todos os anos celebramos o 25 de Abril. Eu presto atenção aos discursos: todos repetem até a exaustão os termos da liberdade e da democracia. Também ouço com atenção as músicas do 25 de Abril. Ouço falar dos heróis do 25 de Abril. Vejo cravos em todas as esquinas. Perdoem-me os arautos do 25 de Abril, mas tudo isto que mencionei é cada vez mais mero folclore.
O 25 de Abril foi uma revolução branda, como são brandos os nossos costumes. Foi protagonizada por militares descontentes, não pela oposição anti-fascista. Está certo que existiu verdadeiros opositores ao regime, como Humberto Delgado, mas não tantos como os que abundam nos dias de hoje. O 25 de Abril foi uma revolução sem sangue mas que poderia ter culminado numa outra ditadura. Foi uma revolução que deixou máculas que ninguém quer discutir.
Os males da democracia portuguesa moderna, que vão desde os problemas na educação, na economia, na justiça e na equidade social têm origem naquele período conturbado e demasiado escarlate. Eu ainda não tinha nascido em 1974, não fiz parte daquele momento determinante, mas conheço a história. Posso estar redondamente enganado, mas tenho a impressão que o 25 de Abril ainda não trouxe verdadeira maturidade a nossa democracia. Tratou-se apenas de uma transição, infelizmente, atabalhoada. Ainda há muito por discutir, por melhorar e reformar.

4/23/2009

Porque é que no Bilhete de Identidade não consta o tamanho do meu pénis?

Pertinência é a palavra certa para a questão que eu coloquei. Muitos dirão que o vocábulo conveniente seria absurdo, outros, mais sensatos, estupidez. Sensatez porém, devo confessar, não é o meu forte. È de uma elementar importância discutir o novo cartão do cidadão, e aludir o objecto de inveja do sexo feminino, na opinião de Freud - não confundir com a minha - é uma maneira pueril mas suponho que eficaz de alertar para o problema. O novo cartão do cidadão poderá ser um atentado a privacidade dos cidadãos e provavelmente uma das medidas mais persecutórias do governo PS de José Sócrates. Em países civilizados como o Reino Unido ou a Noruega não existem sequer Bilhetes de Identidade. Cá em Portugal pretende-se avançar para um cartãozinho modernaço, com chip e tudo, que conterá uma base de dados extensiva com muita informação privada, confidencial e restrita. Lentamente mas inexoravelmente estamos entregando para as mãos de um escol, informação nossa e somente nossa. Sem nos apercebemos abdicamos de direitos e garantias. Eu consigo contar com os dedos de uma mão as pessoas que conheço que estão a par dos problemas que o cartão do cidadão poderá trazer. Nesse cartão poderá constar simultaneamente informação de cariz fiscal, biométrico, médico, político ou criminal. Dizem-me os convertidos a este processo de invasão da privacidade, que a informação estará protegida, que haverá protecção de dados, que a confidencialidade está garantida, mas não é difícil imaginar que haverá pessoas com má fé, dentro ou fora do sistema, que poderão usar ou deturpar a informação ao seu dispor. A tecnologia tem que avançar mas já é suficientemente preocupante a discrepância que existe entre o produtor de tecnologia e o seu vulgar utilizador. Eu, por exemplo, estou a anos-luz de conseguir perceber a tecnologia que uso no meu dia-a-dia. Desde o Messenger ao cartão de débito, do telemóvel ao PC, estou mais próximo de um homem do séc. XVIII do que um sofisticado engenheiro do séc. XXI.

4/09/2009

Memórias

Tenho má memória. Esqueço-me das coisas com muita facilidade. São nomes, caras, momentos que se perdem nos meandros do meu hipotálamo. Este pequeno órgão, que se encontra nas entranhas do cérebro, bem lá dentro e longe do córtex frontal, pensa-se que é essencial para preservar memórias, também é fundamental noutras funções fisiológicas essenciais, e é muito importante nas reacções emocionais. O meu hipotálamo funciona mal, muitas vezes sou obrigado a sorrir a perfeitos estranhos. Sem sabendo com quem estou a falar, uso alguns truques para iludir os meus interlocutores de forma que estes não se apercebam que simplesmente os esqueci. È muita falta de educação não se lembrar de uma pessoa, parece que faço de propósito, quando simplesmente e provavelmente, trata-se de um processo químico que ocorre no meu hipotálamo. Devo dizer, no entanto, que não me esqueço de tudo, a minha falta de memória é cruelmente selectiva. Lembro-me perfeitamente dos bons momentos, e isso por vezes remete-me para uma nostalgia doentia. Fico apático por lembrar de certos momentos, de certas pessoas, de episódios que não voltarão a se repetir.
Ter uma má memória é-me essencial para uma ter uma certa higiene mental. No mundo social é suicida não se lembrar das coisas e pessoas, mas na privacidade e na intimidade pode ser muito útil ter má memória. Existe uma sensação de frescura quando fazemos as coisas. Há mais prazer em tudo. Ter má memória permite ter relações mais sólidas porque atenua a rotina. Ter má memória também é útil quando o nosso património emocional está de rastos. È óptimo não se lembrar daquelas pessoas que não gostamos, ou que já gostamos muito e não gostamos mais. Ter má memória salvou-me a vida muitas vezes.