No outro dia disseram-me que ninguém gostava de determinado indivíduo, acrescentaram que este era um infeliz, e, claro, esquisito. Não sei se foi por esta ordem, não sei se me disseram primeiro que essa pessoa era infeliz e esquisita, e depois acrescentaram que ninguém gostava dela. Pareceu-me, no entanto, uma sentença atroz dizer que essa pessoa era um infeliz. Como se não interessasse o estado de espírito dessa pessoa, ela pode ser feliz e contente, pode ter as suas limitações como toda a gente, mas o que importa era que ele era infeliz, como a sua infelicidade fosse imposta por todos. Essa infelicidade pode nem sequer existir, essa pessoa pode se sentir bem consigo própria, mas isso pouco interessa, sendo esquisita, e ninguém gostando dela, ela não pode sorrir. Esta observação fez-me pensar. O que pretendia o meu interlocutor, quando proferiu a a medonha sentença? Primeiro, pensei que este, provavelmente, o que pretendia, era que eu homologasse a sentença, confirmando aquele juízo. Eu respondi como as regras, disse que achava o mesmo, e até referi um episódio que corroborava a infelicidade do indivíduo. Depois pensei um pouco melhor, será que era só isto que o meu interlocutor pretendia? Cheguei então a uma conclusão diferente, o que ele queria não era que eu confirmasse a sua opinião sobre aquela pessoa, não, não era isso, aquela nossa conversa foi um aviso a minha navegação. Eu simplesmente não me devo aproximar daquele «infeliz», tenho de ser como toda a gente, que já tem uma opinião formada, e sendo o indivíduo infeliz, e esquisito, não poderei, obviamente, gostar dele. Deste modo devo-me afastar dele. Pode-se dizer que aquela conversa toda serviu, apenas, para ostracizar uma pessoa. Lembro-me de Sócrates, o filósofo que teve duas escolhas, uma era sair de Atenas, ou seja, ser ostracizado, e outra, como todos nós sabemos, envolvia cicuta. Sócrates preferiu a cicuta.
11/10/2009
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