12/09/2009
12/08/2009
Zeus na Avenida do Mar
- Quer melhorar a sua vida? - disse-me ele num tom desafiador.
- Eu gosto da minha vida como ela é. - repliquei numa tentativa de escapulir daquele local.
- Alguém que diz uma coisa dessas está manifestamente insatisfeito com a sua vida.
Eu sorri com a aparente contradição.
- Está a dizer que estou a mentir? - perguntei.
- Não diria mentir. Provavelmente é um mecanismo de defesa dizer o oposto daquilo que pensamos.
Fiquei surpreendido com esta resposta e curioso em ouvir mais daquele personagem indiscreto. Pelo menos não era um néscio qualquer.
- O segredo para felicidade reside em almejar algo apoiado pelos deuses.
- Quais deuses? - questionei atónito.
- Depende daquilo que estiver a desejar. Por exemplo se almeja fortuna tem de prestar tributo a Pluto...
- Pluto! - interrompi eu bruscamente - Aquele que os romanos chamavam de Hades, o rei dos infernos?
- Sim, esse mesmo. Como sabe ele era cego por isso favorecia com a riqueza tanto aos idiotas, como aos velhacos ou os virtuosos. Embora estes últimos raramente possuam em abundância o vil metal.
- Meu caro senhor. Lamento mas temos que partir. A minha colega tem um compromisso com umas amigas. -Inventei eu para despachar o homem.
- Mas eu ainda não lhe disse o que pretendo para si.
- Não estou interessado em saber. Muito obrigado. Com licença.
Foi então que o homem agarrou-me no braço e disse.
- Eu sou Zeus e já ninguém me liga. Casei-me três vezes. Possui centenas de divindades e algumas humanas também. E agora o que sou? Uma excentricidade leccionada em algumas aulas de história que já não fascina ninguém.
Eu ia a minha colega nem respondemos ao desabafo daquela figura infeliz, mas mesmo assim, por piedade, oferecemos-lhe um 1,5€ para ele comprar umas castanhas.
O encontro
O encontro com a Sra. Y dar-se-ia num domingo de inverno ao jantar num famoso restaurante funchalense. Tanto o Sr. X como a Sra. Y estavam impecavelmente vestidos para a ocasião, no entanto, este encontro não poderia ter sido mais desastroso. No momento preciso em que se encontrou com a Sra. Y, o Sr. X só conseguiu balbuciar palavras começadas por B, e a única compreendida pela Sra. Y, foi a palavra "beringela". Isto provocou uma apoplexia na Sra. Y dado que beringela era o apelido que tinham-lhe impingido no secundário por esta se ter apaixonado pelo o filho de um produtor de beringelas. Como as pessoas podem ser tão cruéis e invejosas, especialmente aquelas que não se apaixonam por filhos de produtores de beringelas!
12/07/2009
O Velho
12/06/2009
Uma mulher e um amigo meu…
Aquela sensação de perda, por muito que tentasse a obliterar, era aguda. Ir as compras, o conforto das amigas íntimas e o convívio familiar serviam para abstrair-se um pouco, mas a sua mente não deixava olvidar o João. Tinham namorado pouco menos do que três anos, mas foram os melhores anos da sua vida. Claro que no inicio foi tudo um pouco por acaso, ele convidou-a para sair, ela não tinha grandes expectativas mas gostou dele e lentamente foi crescendo a paixão e o amor. Apesar desta última palavra nunca ter sido pronunciada por ambos, havia ali amor. Um amor geralmente terno e meigo, mas que por vezes transformava-se em sedenta paixão. O João manifestava o seu amor numa base regular mas sem grandes exageros, o que era adequado para ela. Quando ele sentia necessidades mais lascivas conquistava o corpo dela sem ambiguidades e entregavam-se os dois a uma intensa sensualidade. Tudo isto agradava a ela porque João era o amante ideal mas sem ser um pinga-amor.
E agora João abandonou-a. Como era isto possível? Dizia ela para si própria. Será que ele trocou-me por outra? Como foi ele capaz de fazer isso? Realmente não foi só ela que ficou estupefacta, as amigas, os pais dela e dele, os amigos dele, todos ficaram um pouco aturdidos com o terminar daquele namoro. Eram o casal exemplar. Ela era bonita e espirituosa, muito melhor que Joana, a ex-namorada dele, que o traiu com um amigo comum. Parece que a vida dele tinha se endireitado de vez. Ambos tinham completado a licenciatura juntos, e parecia tudo tão bem encaminhado. Mas João partiu para Lisboa sem avisar ninguém, ficou lá duas ou três semanas, quando voltou terminou o namoro, sem grandes justificações ou desculpas. Foi até um pouco brusco, o que não era de todo uma sua característica.
A vida perante os reveses parece inevitavelmente injusta e a sensação de injustiça conduz a revolta. Mas naquele momento não havia nada que ela pudesse acusar o João. Durante o tempo em que estiveram juntos até o rompimento da relação ele tinha sido quase perfeito e embora não houvesse mais nada a fazer do que aceitar o sucedido de cabeça erguida, o que ela queria, ao menos, era uma explicação. Mas como obter uma explicação se ele não queria sequer falar com ela? E mesmo que ele quisesse falar com ela havia outra questão: a humilhação de se dirigir a ele. A relação entre ela e João também baseou-se no pressuposto de que ela era o elemento mais devoluto e resoluto, ela sempre pensou se aquilo acabasse seria sempre pela iniciativa dela e não dele. Mais um motivo para que a acção do João fosse ainda mais incompreensível.
O tempo passou mas aquela dúvida, ou melhor, aquela exigência de compreender o sucedido recresceu ao ponto de provocar insónias. As noites eram, para ela, particularmente difíceis, era consumida por rememorações dos bons momentos passados com João e cada dia que passava a frustração crescia até ao dia que encontrou um antigo amigo, o Carlos.
Carlos foi o primeiro amante dela. A primeira vez que fizeram amor, tinha ela quinze anos e ele dezoito, desde então em certas ocasiões que se encontravam trocavam alguns piropos e algumas piadas privadas e, embora só tinha acontecido duas vezes em oito anos, iam para cama. Sempre que ela se encontrava particularmente vulnerável, Carlos era o ideal encosto. Carlos possuía uma auto-confiança infinita, «capaz de mover montanhas» segundo ela, era também um excelente conversador e bem-humorado. Foi através de Carlos que ela descobriu a resolução do dilema que a consumiu. João tinha descoberto pouco antes de ir a Lisboa e através de um amigo, a relação que ela tinha tido com amigo meu no inicio do namoro de ambos. Isto deixou-o bastante magoado e pálido de raiva porque era segunda vez que acontecia isto a ele.
Este meu amigo contou-me esta história que segundo o próprio protagonista era bastante infeliz. Tinha perdido um amigo - o João - em troco de uma aventura sexual ínvia. Durante aqueles três anos manteve o segredo de ter ido para a cama com a namorada do João, mas num momento estúpido e descuidado revelou o que tinha acontecido e a história acabou por chegar aos ouvidos deste.
Estes desencontros revelam o essencial da natureza humana. Somos capazes de amar e de ir a lua, mas simultaneamente detemos o poder absoluto de destruir tudo o que nos é mais precioso.