Lugar Sentado
3/22/2010
Desrespeito protocolar
2/15/2010
Actualidade política: cenários
Ana Sá Lopes é peremptória, Sócrates está ligado à máquina. A questão é saber quem vai desligar o interruptor. Será o Presidente Cavaco Silva? Será uma moção de censura no parlamento? Será o próprio Sócrates, que consciente do lamaçal em que está metido, que se afasta? Adorava saber o que se passa nos bastidores da política, para compreender melhor a situação. Dada a minha condição de espectador só posso especular.
- Em relação a Cavaco Silva, um político que respeito e admiro, espero que ele não se comprometa com o PSD, como fez Sampaio com o PS. Cavaco Silva tem francas hipóteses de se recandidatar, e deixar um legado político vítreo, mas se envolver em demasia com os sociais-democratas, depressa se afundará como eles. Não acredito que Cavaco convoque novas eleições, pelo menos até depois das próximas presidenciais. Portanto estou convicto que não sairá do Palácio de Belém a ordem que afastará Sócrates.
- Em relação ao parlamento, local onde poderá surgir uma moção de censura, há que ter em conta que por agora nenhum partido está suficiente seguro de si para derrubar Sócrates, especialmente o PSD, que se encontra acéfalo e esquizofrénico até 26 de Março. Depois desta data o caso muda de figura, poderemos verificar que o próximo líder terá tanta pressa em chegar ao poder, que poderá meter os pés pelas mãos, provocando a queda do governo, apesar disto, não é linear que o PSD ganhe as eleições, basta ver as sondagens.
- Depois há a terceira hipótese que é a demissão de Sócrates. O nosso ainda primeiro-ministro poderá ter um rasgo de lucidez e consciência e afastar-se. Esta possibilidade não é verosímil. Acreditar que Sócrates tem bom senso é pedir demais.
Perante estes três cenários, só gostava de ter uma certeza, que o nosso país mudasse de rumo e políticas, de modo a reverter esta morte lenta que estamos metidos.
António Ferreira
12/09/2009
12/08/2009
Zeus na Avenida do Mar
- Quer melhorar a sua vida? - disse-me ele num tom desafiador.
- Eu gosto da minha vida como ela é. - repliquei numa tentativa de escapulir daquele local.
- Alguém que diz uma coisa dessas está manifestamente insatisfeito com a sua vida.
Eu sorri com a aparente contradição.
- Está a dizer que estou a mentir? - perguntei.
- Não diria mentir. Provavelmente é um mecanismo de defesa dizer o oposto daquilo que pensamos.
Fiquei surpreendido com esta resposta e curioso em ouvir mais daquele personagem indiscreto. Pelo menos não era um néscio qualquer.
- O segredo para felicidade reside em almejar algo apoiado pelos deuses.
- Quais deuses? - questionei atónito.
- Depende daquilo que estiver a desejar. Por exemplo se almeja fortuna tem de prestar tributo a Pluto...
- Pluto! - interrompi eu bruscamente - Aquele que os romanos chamavam de Hades, o rei dos infernos?
- Sim, esse mesmo. Como sabe ele era cego por isso favorecia com a riqueza tanto aos idiotas, como aos velhacos ou os virtuosos. Embora estes últimos raramente possuam em abundância o vil metal.
- Meu caro senhor. Lamento mas temos que partir. A minha colega tem um compromisso com umas amigas. -Inventei eu para despachar o homem.
- Mas eu ainda não lhe disse o que pretendo para si.
- Não estou interessado em saber. Muito obrigado. Com licença.
Foi então que o homem agarrou-me no braço e disse.
- Eu sou Zeus e já ninguém me liga. Casei-me três vezes. Possui centenas de divindades e algumas humanas também. E agora o que sou? Uma excentricidade leccionada em algumas aulas de história que já não fascina ninguém.
Eu ia a minha colega nem respondemos ao desabafo daquela figura infeliz, mas mesmo assim, por piedade, oferecemos-lhe um 1,5€ para ele comprar umas castanhas.
O encontro
O encontro com a Sra. Y dar-se-ia num domingo de inverno ao jantar num famoso restaurante funchalense. Tanto o Sr. X como a Sra. Y estavam impecavelmente vestidos para a ocasião, no entanto, este encontro não poderia ter sido mais desastroso. No momento preciso em que se encontrou com a Sra. Y, o Sr. X só conseguiu balbuciar palavras começadas por B, e a única compreendida pela Sra. Y, foi a palavra "beringela". Isto provocou uma apoplexia na Sra. Y dado que beringela era o apelido que tinham-lhe impingido no secundário por esta se ter apaixonado pelo o filho de um produtor de beringelas. Como as pessoas podem ser tão cruéis e invejosas, especialmente aquelas que não se apaixonam por filhos de produtores de beringelas!
12/07/2009
O Velho
12/06/2009
Uma mulher e um amigo meu…
Aquela sensação de perda, por muito que tentasse a obliterar, era aguda. Ir as compras, o conforto das amigas íntimas e o convívio familiar serviam para abstrair-se um pouco, mas a sua mente não deixava olvidar o João. Tinham namorado pouco menos do que três anos, mas foram os melhores anos da sua vida. Claro que no inicio foi tudo um pouco por acaso, ele convidou-a para sair, ela não tinha grandes expectativas mas gostou dele e lentamente foi crescendo a paixão e o amor. Apesar desta última palavra nunca ter sido pronunciada por ambos, havia ali amor. Um amor geralmente terno e meigo, mas que por vezes transformava-se em sedenta paixão. O João manifestava o seu amor numa base regular mas sem grandes exageros, o que era adequado para ela. Quando ele sentia necessidades mais lascivas conquistava o corpo dela sem ambiguidades e entregavam-se os dois a uma intensa sensualidade. Tudo isto agradava a ela porque João era o amante ideal mas sem ser um pinga-amor.
E agora João abandonou-a. Como era isto possível? Dizia ela para si própria. Será que ele trocou-me por outra? Como foi ele capaz de fazer isso? Realmente não foi só ela que ficou estupefacta, as amigas, os pais dela e dele, os amigos dele, todos ficaram um pouco aturdidos com o terminar daquele namoro. Eram o casal exemplar. Ela era bonita e espirituosa, muito melhor que Joana, a ex-namorada dele, que o traiu com um amigo comum. Parece que a vida dele tinha se endireitado de vez. Ambos tinham completado a licenciatura juntos, e parecia tudo tão bem encaminhado. Mas João partiu para Lisboa sem avisar ninguém, ficou lá duas ou três semanas, quando voltou terminou o namoro, sem grandes justificações ou desculpas. Foi até um pouco brusco, o que não era de todo uma sua característica.
A vida perante os reveses parece inevitavelmente injusta e a sensação de injustiça conduz a revolta. Mas naquele momento não havia nada que ela pudesse acusar o João. Durante o tempo em que estiveram juntos até o rompimento da relação ele tinha sido quase perfeito e embora não houvesse mais nada a fazer do que aceitar o sucedido de cabeça erguida, o que ela queria, ao menos, era uma explicação. Mas como obter uma explicação se ele não queria sequer falar com ela? E mesmo que ele quisesse falar com ela havia outra questão: a humilhação de se dirigir a ele. A relação entre ela e João também baseou-se no pressuposto de que ela era o elemento mais devoluto e resoluto, ela sempre pensou se aquilo acabasse seria sempre pela iniciativa dela e não dele. Mais um motivo para que a acção do João fosse ainda mais incompreensível.
O tempo passou mas aquela dúvida, ou melhor, aquela exigência de compreender o sucedido recresceu ao ponto de provocar insónias. As noites eram, para ela, particularmente difíceis, era consumida por rememorações dos bons momentos passados com João e cada dia que passava a frustração crescia até ao dia que encontrou um antigo amigo, o Carlos.
Carlos foi o primeiro amante dela. A primeira vez que fizeram amor, tinha ela quinze anos e ele dezoito, desde então em certas ocasiões que se encontravam trocavam alguns piropos e algumas piadas privadas e, embora só tinha acontecido duas vezes em oito anos, iam para cama. Sempre que ela se encontrava particularmente vulnerável, Carlos era o ideal encosto. Carlos possuía uma auto-confiança infinita, «capaz de mover montanhas» segundo ela, era também um excelente conversador e bem-humorado. Foi através de Carlos que ela descobriu a resolução do dilema que a consumiu. João tinha descoberto pouco antes de ir a Lisboa e através de um amigo, a relação que ela tinha tido com amigo meu no inicio do namoro de ambos. Isto deixou-o bastante magoado e pálido de raiva porque era segunda vez que acontecia isto a ele.
Este meu amigo contou-me esta história que segundo o próprio protagonista era bastante infeliz. Tinha perdido um amigo - o João - em troco de uma aventura sexual ínvia. Durante aqueles três anos manteve o segredo de ter ido para a cama com a namorada do João, mas num momento estúpido e descuidado revelou o que tinha acontecido e a história acabou por chegar aos ouvidos deste.
Estes desencontros revelam o essencial da natureza humana. Somos capazes de amar e de ir a lua, mas simultaneamente detemos o poder absoluto de destruir tudo o que nos é mais precioso.
11/23/2009
11/22/2009
11/21/2009
Sócrates e a governação.
Pulp - We Love Life (2001)
1. Weeds
2. Weeds 2
3. The Night That Minnie Timperley Died
4. The Trees
5. Wickerman
6. I Love Life
7. The Birds in your Garden
8. Bob Lind (The Only Way Is Down)
9. Bad Cover Version
10. Roadkill
11. Sunrise
12. Yesterday
13. Forever in my Dreams
Os motivos errados de gostar de alguém
11/19/2009
Pequena nota sobre o amor...
O passado persegue-nos desde o infinito até o momento presente. Há quem diga que vivemos vidas passadas, que somos o ressoar de outras existências, de outras experiências, de outros mundos, quiçá, como se fossemos o eco de estranhas civilizações. Esta última passagem faz-me lembrar o amor. Quando sentimos que amamos alguém, o mundo parece que cessa de existir, o que mais almejamos e consubstanciar a pessoa amada, materializar a nossa paixão, enfim transformar o intangível em tangível. O universo de uma relação com paixão é único, como se fosse criado um universo paralelo, uma estranha civilização (devo estas palavras a Chico Buarque). E quando o amor acaba? Podemos fazer como José Saramago e apagar o nome de Isabel Nóbrega das dedicatórias, mas este gesto não torna a Isabel num espectro invisível, ela continua a existir, a coexistir, a respirar. O amor por uma mulher pode ser evanescente nos nossos corações, mas não é no pergaminho da nossa memória. Subsistem momentos, vivências, missivas ridículas, gestos ditirâmbicos. Parece-nos, de repente, que tudo aquilo foi um delírio, que não estávamos em nós próprios. A alacridade transforma-se em melancolia. O amor, por vezes, em ódio, ou então, num vilipêndio repulsivo.